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quinta-feira, 7 de abril de 2011

e-Fólio A

Unidade Curricular de PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO
1 - Jean William Fritz Piaget, suíço, licenciado em biologia, doutorado em zoologia, epistemólogo, psicólogo, nasceu em Neuchâtel a 09/08/1896 e faleceu em Genebra a 17/09/1980.
Do casamento com Valentine Châtenay nasceram três filhas, cujo desenvolvimento intelectual fez questão de estudar de forma minuciosa, paralelamente com o de outras crianças. A observação foi, aliás, uma capacidade que evidenciou desde muito cedo. Deixou uma obra admirável, cerca de cem livros e mais de quatrocentos artigos publicados.
Jean Piaget é um ícone, considerado mesmo o maior psicólogo do desenvolvimento de todos os tempos. Dedicou mais de cinquenta anos à investigação, nomeadamente ao estudo do desenvolvimento da inteligência humana. Foi um dos pioneiros a considerar a criança como ela própria e não como um adulto imperfeito, em miniatura (ideia primitiva), demonstrando que o conhecimento é estruturado a partir da interacção entre a componente biológica e as aprendizagens estabelecidas com o meio. Fundador da epistemologia genética (etimologicamente, epistemo/conhecimento, logia/estudo), determinou cientificamente como se avança no conhecimento, ou seja o processo de construção do conhecimento e os mecanismos que o indivíduo utiliza para perceber o mundo. Segundo Piaget «não existe estrutura sem génese, nem génese sem estrutura». Bello, J. (1995: 1)  
 As suas pesquisas foram fundamentais para o desenvolvimento da teoria do construtivismo, que caracteriza grande parte da sua acção como investigador, abrindo novos campos de estudo, não só para a psicologia do desenvolvimento, mas também para outras áreas do conhecimento, nomeadamente a sociologia e a antropologia.
O conceito construtivista sustenta que o conhecimento não é estático, pelo contrário, está em constante evolução e mudança, à medida que os aprendentes, de todas as idades, se confrontam com novas experiências, se envolvem activamente no processo de aquisição de informação, levando à construção do seu próprio conhecimento e/ou a modificar conhecimentos anteriores.
Na origem do desenvolvimento está a acção do sujeito (construtivismo psicológico); conhecer é agir sobre a realidade, transformando-a (construtivismo epistemológico); compreender é reinventar/assimilar de modo significativo, o que lhe é transmitido (construtivismo pedagógico); o ser humano é o primeiro responsável pelo seu desenvolvimento e aprendizagem (construtivismo existencial).  
O indivíduo só recebe um novo conhecimento se o organismo já tiver um conhecimento prévio que o assimile e transforme: a assimilação, conjugada com a acomodação (processo adaptativo que ajusta os esquemas existentes a novas situações) e com a equilibração (estrutura reguladora da assimilação e acomodação) facultada pela adaptação do indivíduo ao meio e à inerente evolução. A construção da inteligência realiza-se em etapas sucessivas e interligadas, numa complexidade crescente, sempre mais eficazes e organizadas em termos qualitativos - saber melhor, não apenas saber mais. Este processo, denominado construtivismo sequencial, conduziu à descoberta dos quatro estádios de desenvolvimento cognitivo no indivíduo, que envolvem formas diferentes de inteligência: sensória-motor (0/2 anos), reflexos inatos/desenvolvimento motor; pré-operatória (2/7 anos), desenvolvimento verbal; operatória concreta (7/12 anos), noções de tempo/espaço/velocidade/ordem; operatória formal (a partir dos 12 anos, em média), desenvolvimento mental/raciocínio lógico e sistemático.  
Em termos pedagógicos, Piaget não propõe um método de ensino, mas sim uma pedagogia baseada na experimentação, na manipulação de objectos, na auto-investigação. De acordo com as suas teorias, o educador não deve apenas ensinar, mas sim dar primazia a actividades que favoreçam a espontaneidade na criança, orientando os alunos a envolver-se em situações do seu ambiente, no questionamento e na procura das próprias respostas, na construção de uma aprendizagem autónoma e com significado.  

Bibliografia:
Arends, R. (2008). Aprender a Ensinar. Lisboa: McGrawHill.
Tavares, J. et al. (2007). Manual de Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem. Porto: Porto Editora.
            Bello, J. (1995). A teoria básica de Jean Piaget. Vitória. Acedido em 02.04.2011 em
http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/per09.htm.

2 – Planificação do desenvolvimento de uma sessão de formação
Tema da sessão: «Velhice é… um estádio de desenvolvimento».  
Destinatários: Utentes, equipa multidisciplinar do Centro de Dia «O Idealista» (nome fictício), agentes da comunidade e público em geral.
Duração da sessão: 45 minutos.
Objectivos: 1) Sensibilizar utentes, profissionais da área da gerontologia e população em geral para a importância do desenvolvimento ao longo da vida e, particularmente, na velhice, para uma maior qualidade de vida dos utentes do centro de dia. Promoção de hábitos saudáveis, de actividades lúdicas e ocupacionais, educativas, desportivas e culturais, impulsionadoras de um maior desenvolvimento físico e intelectual, para um envelhecimento mais activo e consciente. 2) Implementar a formação de competências em desenvolvimento humano através de acções teórico-práticas, a profissionais e outros agentes da comunidade, incrementando a reflexão sobre a problemática do processo evolutivo, para uma intervenção mais eficiente, potenciando a melhoria e a qualificação dos serviços prestados.
Recursos disponíveis: Um quadro interactivo; um projector de vídeo.
Metodologia - A presente formação teve como base a investigação descritiva/estudo pela observação natural e também um estudo preliminar, realizado a informantes, um sub-grupo da comunidade local da freguesia (por amostra), sobre o entendimento de desenvolvimento e envelhecimento. Foi efectuado, com grande atitude ética, por um grupo de trabalho constituído por técnicos de educação, experientes no trabalho com idosos. Consistiu na recolha e análise dos dados obtidos, através de questionário, a 50 participantes na faixa etária subsequente aos 65 anos, tendo como referência, o sexo, a idade, o nível de escolaridade, a estrutura familiar. Concluiu-se que as representações sociais, plenamente enraizadas na comunidade, apontavam para um consenso generalizado das concepções negativas da velhice, dependência, estagnação e também preconceitos e estereótipos, relacionados com crenças e tradições.
GUIÃO
Introdução - Como técnica de educação inserida na equipa multidisciplinar do Centro de Dia “O Idealista”, que pugna por um aperfeiçoamento constante das condições físicas e humanas da instituição e do bem-estar de cada idoso, em particular, propus-me desenvolver esta formação, encetando, assim, um ciclo de acções, no âmbito dos novos programas de intervenção na prevenção e promoção da saúde e educação sénior. A sessão terá lugar no auditório da Junta de Freguesia, em data a agendar. A apresentação será oral/expositiva, complementada com meios audiovisuais auxiliares (suporte em powerpoint, word e vídeo). Finalizará com a interacção e diálogo com o público, numa estratégia de motivação/envolvimento com a temática. Perspectiva-se a seguinte abordagem e sequência:
Psicologia do desenvolvimento – A ciência que tem como objecto o estudo do desenvolvimento humano, ou seja as mudanças resultantes de um conjunto de variáveis biológicas, psicológicas, sociais e afectivas, que se iniciam na concepção e se processam de forma progressiva e evolutiva, em diferentes etapas sequenciais (estádios), ao longo do ciclo da vida. O seu cunho normativo, já que define regras e prescreve comportamentos, acaba por assumir o papel de instituição especializada, revelando o lugar social do sujeito na sociedade. A ciência tem essa função de intensificar e explicar, com consistência, a realidade, através de modelos teóricos, num dado momento histórico, servindo também para especificar e preconizar acções humanas. A psicologia científica e as teorias explícitas, constituídas por conjuntos de conceitos adequados à explicação e interpretação dos factos, proporcionam uma base para o levantamento de suposições e resultam de constantes investigações (sempre em aberto), visando estabelecer o rigor nessa área do conhecimento. Associadas à cultura, assumem um aspecto moral com implicações nas práticas sociais. A psicologia popular, com as suas teorias implícitas, caracterizadas pelo conhecimento espontâneo nas questões práticas, pese embora alguma ambiguidade, ingenuidade e/ou incongruência, acaba por regular uma certa visão do mundo, revelando o aspecto moral que o significado da natureza humana assume na sociedade. A sua articulação com as teorias explícitas leva, frequentemente, a um ponto de partida para a investigação e aprofundamento científicos.
Velhice As concepções tradicionais sobre o envelhecimento, remetem-nos a priori para a noção da idade cronológica, para a perda de capacidades, a degradação, a própria ideia de morte. As representações sociais nas sociedades neo-liberais uniformizam o percurso de vida do indivíduo e a sua finalidade, definem os espaços sociais, avaliam o mérito do homem pela sua capacidade produtiva e riqueza material, influenciam a construção da identidade, subvalorizam a sua realização integral. Actualmente, surge um novo entendimento sobre a forma como o comportamento e os processos mentais mudam ao longo da vida. Segundo essas novas perspectivas sabe-se que é possível manter capacidades de adaptação a novas situações, pelo que temos duas possibilidades: perceber a mudança pela positiva, ou então pela negativa, a menos adequada. As estruturas adquiridas num estádio derivam da forma como o estádio anterior é vivenciado, sendo integradas no seguinte, numa sequência integrativa e qualitativa. Optando pela hipótese positiva, consideramos a última fase da vida como o estádio mais elevado do desenvolvimento, o da consolidação, da auto-realização, da integridade. Essa compreensão será conseguida gradual e cumulativamente com a experiência, a realização plena do sujeito, de acordo com as suas possibilidades, em cada etapa da vida, a inteligência que atinge a maturidade, a sabedoria.
Conclusão - O aumento da esperança média de vida dos cidadãos só gozará de uma perspectiva positiva, se houver um maior conhecimento e consciencialização de toda a sociedade, sobre o processo gradual de envelhecimento, destituindo representações ilógicas e implementando medidas para um desenvolvimento integral do ser humano, com qualidade de vida e dignidade. Afinal, o envelhecimento começa com a vida.
Bibliografia:
Almeida, A. & Cunha. G. (2003). Psicologia: Reflexão e Crítica. Vol.16 (1), pp. 147-155.  
Mota, M. (2005). Psicologia do desenvolvimento: uma perspectiva histórica.Vol.13, n.2, pp. 105-111. 
Valadares, J. et al. (2007). Manual de Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem. Porto: Porto Editora.